quarta-feira, 3 de março de 2010

Fita Não Tão Branca Asim


Ontem, segunda-feira braba (fora o fato de ser segunda-feira, o Coringão foi vergonhosamente roubado no domingo, no jogo contra as Sereias do litoral sul paulista) em que o cinema custa R$4,00 no tradicional e charmoso hsbc BELAS ARTES, fui assisti um dos filmes que concorrem ao Oscar deste ano, nas categorias de melhor filme estrangeiro e melhor fotografia. Trata-se de "A Fita Branca", do diretor austríaco Michael Haneke, o mesmo do imperdível Caché.


A história se passa em uma aldeia alemã, entre os anos de 1913 e 1914, onde camponeses trabalham para um Barão. Desde o início do filme, vários acontecimentos começam a ocorrer, desde uma brincadeira que leva o médico do vilarejo a se machucar e passar um certo tempo no hospital, até a tortura de um menino com síndrome de down, encontrado amarrado em uma árvore com o rosto desfigurado. É de se notar que as crianças estão envolvidas em quase todas as cenas do filme, e que suas expressões e atitudes sempre as deixam como suspeitas. A criação a que são submetidas, ancorada no falso moralismo de seus pais, dirigido a uma educação baseada em religião, violência e preconceitos, as mostram também como vítimas.Com isso, em nenhum momento o diretor deixa transparecer quem são os verdadeiros autores dos crimes, fazendo com que o público não perca, em nenhum momento, o interesse pela história. Ao contrário. A cada cena em que a câmera brilhantemente vai de um espaço ao outro, acompanhando de perto todas as situações, a dúvida fica ainda maior, deixando o suspense sempre em primeiro plano, ajudado pela bela fotografia em preto e branco e a ótima interpretação do elenco.

Pelo que li e ouvi, a maioria das críticas foram favoráveis ao filme. Poucas colocaram alguns "poréns" em seus textos.mas praticamente todas concordavam em algumas coisas: que o filme tinha um jeito duro, forte, de ser mostrado, por ser em preto e branco, e por não possuir trilha sonora alguma, trazendo ainda mais brutalidade há algumas cenas. A linda fotografia que é apresentada no filme, em diversos planos internos e externos, contribuindo muito em seu resultado final. O modo em que Haneke filma cada uma das cenas, com a câmera para quanto em movimento, faz com que os personagens pareçam não notar que ali em volta há todo um aparato técnico e pessoal , dando uma incrível sensação de naturalidade as cenas. A narração feita em off por um dos personagens (um professor da aldeia onde é passada toda a história do filme) também ajuda no conjunto da obra .

A controvérsia maior gira em torno do que Haneke quis mostrar ao público com o filme. Segundo ele, a história traz uma relação entre o modo e a atitude das crianças que viveram naquele começo de século XX, com o nazismo comandado por Hitler alguns anos depois. O austríaco se baseou nos estudos de um intelectual alemão (não vou me aprofundar nisto, só dá um Google que vocês acham, óquei?), que mostrava haver fortes indícios de que o modo de vida daquelas crianças, baseados num forte autoritarismo paterno, aliado a doses de idealismo direitista e a aversão à aquilo que fosse "diferente", fez com que alguns anos depois, estas mesmas crianças já adultas, seguissem o ideal nazista disseminado pelo ditador alemão.

Tal entendimento do diretor, é confrontado por muitas pessoas, inclusive "yo" e vários estudiosos do assunto(outra Googlada pra quem quer saber mais), que não vêem uma relação direta de uma coisa com a outra. Este, o único pecado do filme para mim. A "causa", defendida pelo diretor, relacionada a desastrosa e aterrorizante "consequência", que foi o período de dominação do regime nazista, poderia muito bem ter sido ocultado da público, já que a história por si só, e o jeito com que Haneke a filma, já tornam a nobre película digna de muitos elogios.

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