quinta-feira, 18 de março de 2010

Nacional e Bom (Parte 1 - Otto)

Inspirado pelo lançamento do 2º CD do criativo guitarrista da Nação Zumbi, Lúcio Maia, "Mundialmente Anônimo", hoje no Sesc Pompéia (prometo fazer uma resenha do disco futuramente), resolvi falar sobre alguns artistas e bandas brasileiros que fazem boa música atualmente.

Otto - Certa Manhã Acordei de Sonhos Intranquilos.




Depois de um hiato de 6 anos sem lançar um álbum de músicas inéditas, o último foi o apenas bom "Sem Gravidade", e do término do relacionamento com a atriz Alessandra Negrini (deve ter sido um motivo muito forte, já que esta mulher é uma das melhores que eu já vi), este pernambucano, que hoje vive no Rio de Janeiro, corre atrás do tempo perdido, munido de ótimas faixas que o colocam de vez, entre os melhores artistas contemporâneos da música brasileira.

"Certa Manhã.." traz um Otto renovado, muito inspirado pelas suas decepções amorosas e pessoais, mostrando que não precisa aliar-se sempre a eletrônica para fazer um disco com a sua cara. Neste cd, Otto quase não a usa, mas abusa de canções originais, construídas a partir de ótimas letras que ganham sustentação com simples e belos arranjos, que se constroem com a colaboração de músicos de primeira qualidade, como Fernando Catatau, do Cidadão Instigado, e Pupilo e Dengue, da Nação Zumbi.
Nelas, como na primeira faixa "Crua" e na seguinte "O Leite", Otto coloca seus sentimentos melancólicos e vivazes a serviço da música, mostrando que o fim de um relacionamento pode ter um lado bom. Muitas vezes, é nessa hora que aparecem as melhores idéias. Os sentimentos transcritos para a música já foram muitas vezes combustível para outros artistas fazerem lindas e inspiradas obras,e é neste rol que agora o pernambucano se inclui.

No disco, também se enxerga claramente a influência do candomblé, como na faixa "Janaína"(nome dado a Iemanjá aqui no Brasil), influência esta que sempre esteve presente em seus discos. Mas é da relação amorosa, carnal, que vem a melhor música do cd. "6 minutos" traz o melhor de Otto. Com uma letra que descreve momentos vividos em uma relação, mais uma vez ele aqui transfere sua dor com a perda da linda morena de olhos pretos. Destaque também para a guitarra estridente de Fernando Catatau que pontua a música em momentos chaves.

"Lágrimas Negras" e "Saudade" trazem de volta a calmaria, sem perder o fio melancólico e sentimental que paira por todo álbum. A bela voz de Julieta Venegas cai deliciosamente nos versos de cada música, fazendo com elas pareçam terem sido especialmente feitas para a cantora nascida nos EUA, mas que tem no México seu verdadeiro amor. Depois vem "Naquela Mesa", canção de Nelson Gonçalves que se encaixa perfeitamente no momento descrito por Otto em meio as outras faixas do disco. Mais uma vez, como aconteceu com "Pra Ser Só Minha Mulher", de Ronnie Von, consegue fazer com que o brega (para alguns, não para mim) se torne atual e verdadeiramente romântico.

As últimas músicas do disco vem fazer o acabamento final a epopéia de sentimentos vivida por Otto e transportada brilhantemente para o álbum. "Filha" fala de como um lugar ou um ambiente, mesmo que seja feliz, agradável, não pode contaminar certas tristezas vividas por uma pessoa. E "Agora Sim", marcada por tambores e percussão, decreta o final do álbum, deixando talvez a frase que possa resumir o álbum inteiro e a inspiração vivida por Otto para fazê-lo .."quem disse que o amor não vai..."

Ótimo disco, sugiro também os 2 primeiros,"Samba Pra Burro" e "Condom Black", que ajudam a ver o amadurecimento sonoro do candango sentimental de barbas ruivas.



Baixe:   http://sombarato.org/node/1041

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